Meus poemas

As vezes eu subo no telhado de casa e fito o céu composto por uma variação alucinante de azul e vermelho. Pergunto ao além se aquele horizonte inóspito poderia ser uma espécie de amostra grátis da Summerland de Wicca, disposta sobre a terra e visível somente àqueles que permitem.
Imagino-me em outra vida. Crio outra história. E quando menos percebo, me flagro sonhando.
Enfim abro meu pequeno caderno e noto tudo que escrevi enquanto estive lá.

23 de novembro de 2012
Eu ando sobre a terra tristemente fria;
Eu desvio dos corpos, mas me obrigo á olhar.
Observo cada cadáver que por variados motivos foram parar em seus respectivos lugares.
Suicídio involuntário;
Assassinato incoerente;
Ódio.
Vidas em vão dominadas pelo falso azar;
Dependentes da pura sorte.
Eu as ignoro e me surpreendo com a própria ignorância de não conseguir enxergá-las.
Eu me obrigo á seguir adiante;
Impassível como eles mesmos me ensinaram a ser.

Deprimente? Mas estava especialmente fria. Dias de treinamento intenso de ignorância fazem maravilhas.
Escrevi enquanto olhava para os apartamentos de um dos prédios á minha frente. Observava cada pessoa ora indo, ora vindo. Sempre fazendo as mesmas coisas, como se seguissem á risca um manual imaginário de como serem excentricamente tediosos.
O que fiz foi apenas inverter os papéis. No poema acima, descrevi essas pessoas como sendo corpos sem vida. E eu, sou elas. Como tal, devo ignorar qualquer tom de cinza ( anormalidade ) á minha volta.

...

27 de novembro de 2012
Os gritos;
As explosões;
As acusações;
O tempo, gritante em suas ações passa lento e como se sessasse sua estadia na terra me deixa para trás, enxergando através de uma lente de câmera lenta.
Eu fujo...
Sinto o vento forte e morno, de certa forma acolhedor, soprando meus cabelos para o alto;
Ouço o ranger dos galhos e o arrastar das folhas;
Secas;
Sem vida.
Mas mesmo num lugar como este, se prestarmos atenção, podemos ver o rancor, o exagero e a desigualdade perante á quem nunca foi interiormente diferente.

Fui na praça durante á noite, deitei sobre um dos longos bancos dispostos por ela e foquei em cada impressão. O ranger das folhas arrastadas pela brisa silenciosamente agradável. A visão da lua á espreitar-me pelos céus e o odor da terra repleta por árvores secamente compridas.
Batizei esse momento como Paraíso das Sensações.
Mas mesmo tão perto dele, as pessoas ainda insistem em não enxergá-lo, voltando suas atenções aos detalhes mais banais de um mundo de defeitos pessoais.

...

03 de janeiro de 2013
Meus olhos ardem quando permito à eles uma visão mais ampla á minha volta.
Minha cabeça dói, gritando em protesto pela simples menção de tentar levantar.
Desisto, optando por inclinar meu corpo para frente, apoiando o rosto nos joelhos úmidos e frios, ávida por reconquistar a calma que, acompanhada pelo intenso silencio, deleita-se timidamente do me ser.
Quando dou por mim, meu corpo já parou de tremer, recobrando aos poucos sua cor natural.
Afasto o possível minha parte insignificantemente nefasta e obrigo meus músculos exaustos á erguer-me sobre os calcanhares doloridos, arriscando os primeiros passos em frente.

Sem muitos comentários, apenas surgiu em minha mente. Creio que este se torne um pedaço dramático de um dos meus livros.

...

27 de janeiro de 2013
E ao permitir-me descansar...
Sinto com prazer os variados focos de dor que cada vértebra trás ao ajeitar-se em uma posição confortável quando deito-me sobre o edredom friamente macio.
Imagino qual será o ponto forte do dia seguinte;
Me flagro sorrindo;
Fecho os olhos e apago. 

Depois de mais um dia no fantástico mundo da loucura que é a minha vida, é assim que vou dormir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário